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terça-feira, novembro 23, 2010

Entrevista de Ricardo Vasconcelos ao site basketpt.com

De seguida é apresentada na integra a entrevista do seleccionador nacional de seniores femininos e responsável pela CNT Calvão Ricardo Vasconcelos ao site desportivo WWW.BASKETPT.COM



Ricardo Vasconcelos é um dos treinadores mais credenciados no panorama do basquetebol português e tem conseguido construir uma carreira de sucesso por onde tem passado - seja em clubes, seja no Centro de Treino de Calvão ou até na Selecção Nacional de Seniores Femininos, onde recentemente começou a desempenhar funções. Pelo sucesso que tem encontrado e pela mudança e melhorias que tenta implementar no basquetebol português, o BasketPT.com foi falar com Ricardo Vasconcelos para saber a sua opinião sobre diversos temas, tais como: desempenho das selecções nacionais jovens, a selecção sénior e a luta para subir à Divisão A, a postura dos atletas portugueses face ao basquetebol e aos sacrifícios que têm de fazer, entre outros.
É uma entrevista a não perder e que é composta por duas partes: uma em formato de vídeo, onde o Coordenador das Selecções Nacionais Femininas responde a quatro perguntas, e a outra parte em formato de texto e que agora pode consultar, na nossa zona de Entrevistas BasketPT.
Não perca Ricardo Vasconcelos em discurso directo no BasketPT.com!

Que avaliação fazes do desempenho das nossas selecções jovens no passado Verão?
Bom! Penso que o desempenho foi bom, e eu falo do Feminino, porque como é óbvio é o que me compete falar, e não faz sentido que esteja aqui a falar do masculino. Chegámos a classificações boas, com equipas que tiveram uma prestação de respeito, que é uma coisa muito importante sentir que estamos por lá e que as outras selecções não gostam de jogar connosco, e isso foi conseguido claramente por parte dos 3 escalões.
É óbvio que do ponto de vista classificativo a equipa de Sub18 não conseguiu corresponder às expectativas, e a treinadora é a primeira a reconhecê-lo. O objectivo era ficar nos 8 primeiros lugares mas não conseguimos. De qualquer forma não se pode considerar um desastre até porque tiveram um grupo inicial bastante complicado e um Europeu tem isto: número de vitórias e número de derrotas é tão, ou quase tão, importante como a classificação final do Europeu. Porque uma derrota pode mudar todo o Europeu, só uma derrota! Às vezes conseguem-se mais vitórias e fica-se pior classificado, e outras vezes conseguem-se mais vitórias e fica-se bem classificado. Não é umtransfer igual.
Acredito que uma das coisas que têm de mudar na forma como encaramos a Europa é o número de vitórias: temos de ganhar jogos!! Para que quando entrarmos em campo, os nossos miúdos tenham noção de que é possível ganhar. Porque muitas vezes, e principalmente em Sub16, é uma coisa que eles ainda não sabem - é a primeira vez que vão participar, ainda não conhecem. Se o passado nos permitir dizer que já ganhámos a estas selecções ou a estas gerações, antes, antes e antes, isso vai trazer confiança quando vamos para o embate.
Eu acho que o que fizemos este Verão, a nível de Feminino foi muito bom.

Pensas que conseguimos subir à Divisão A em alguns escalões ou para já o nosso nível é tentar estar entre os 4 ou 5 primeiros da Divisão B?
Se falarmos da generalidade e de um processo que tem de ser construído etapa a etapa, nós cada vez mais temos capacidade para estar entre os 8 primeiros da Divisão B, e em algumas gerações conseguimos almejar aos 4 primeiros. Estar na Divisão A ainda não é algo que esteja de acordo com o nosso nível. Penso que algumas gerações poderão conseguir fazê-lo: já tivemos as Sub16 à porta de o fazer, as Sub18 e também as Sub20. Já conseguimos em três anos estar ali entre o 3º e o 4º lugar, o que quer dizer que conseguimos disputar os jogos das Meias-finais. O que quer dizer que conseguimos estar presentes nos jogos que decidem quem sobe à Divisão A, e se perdemos esses jogos por curtas diferenças, quer dizer que era perfeitamente possível ter subido.
Mas se me disserem que o nível geral  da nossa competição e dos nossos praticantes é a Divisão A: neste momento, eu digo que não! É preciso ter a consciência que muitas vezes é bastante mais complicado subir à principal Divisão, do que não descer, porque subir é ficar nos dois primeiros, e não descer é só não ficar nos dois últimos. E aí há sempre uma grande diferença pois há equipas que descem que têm muito bom nível e há equipas que se mantêm na Divisão A que têm menos nível que as quatro primeiras da Divisão B.
Penso que estamos numa fase intermédia, em que claramente aqueles 4 primeiro lugares têm de ser, cada vez mais, a nossa meta e em algum ano vamos subir!

O CNT-Calvão é um dos Centros de Treino com melhor reputação: isso é fruto do trabalho diário ou se não aparecessem bons resultados nos Europeus, o trabalho não seria tão elogiado?
Se eu te disser que tive oportunidade de estar no jogo da Supertaça deste ano, onde estavam Olivais FC e AD Vagos - estamos a falar do 1º e 2º classificado - e estavam 11 jogadoras que passaram por este Centro de Treino. E estamos a falar de jogadoras que no máximo podem ser 1º ano de Seniores, portanto estamos a falar de muitas que ainda são Sub19, isto ultrapassa qualquer resultado classificativo do Europeu. Se nós hoje conseguimos por ano, das 12 jogadoras, ou das 6 de cada idade, colocar 80 ou 90% a jogar na Liga - e as miúdas jogam tempo de qualidade, algumas com idade ainda de Sub18 - portanto isto fala por si só. Isto representa mais do que os resultados nos Europeus, e acho que as pessoas diriam bem na mesma. Até porque no 1º ano que estivemos em Calvão ficámos em 10º lugar, e essa não é uma classificação que nós queiramos.

As gerações deste ano do CNT-Calvão(1995 e 1996) são muito diferentes, a nível físico e técnico, das anteriores?
São muito diferentes! A nível físico são muito melhores, a nível técnico muito piores, são menos conhecedoras do jogo. Se em anos anteriores tínhamos aqui jogadoras que já faziam a diferença nos seus clubes e que já eram referências no mesmo, estas não. A maior parte destas, e principalmente nas Sub15, são jogadoras com umas dificuldades de correr e saltar - é uma geração grande, e apesar de não termos nenhuma jogadora acima do 1m85, temos 15 ou 20 jogadoras acima dos 1m80. Portanto, é muito significativo para uma geração nacional! Não é normal, não estamos habituados.
Há diferenças, que por vezes nos fazem pensar que não sabemos se vão ser tão boas Sub16 como foram as anteriores, mas que nos fazem acreditar que vão ser, ou que poderão vir a ser melhores Sub20 do que foram as anteriores! E estamos a falar como geração e não como casos particulares. Como selecção, provavelmente esta geração será melhor em Sub20 do que a do ano passado, ou de há dois ou três anos.

Essas diferenças vão implicar diferente estilo de jogo e preparação ou as principais características irão manter-se?
Dois pontos diferentes:
1 - Preparar de forma diferente, evidentemente que sim. Se estamos a falar de jogadoras que 'ainda não sabem andar' não podemos fazer um decalque do trabalho feito com jogadoras que já sabiam...'correr', não sabiam era sprintar! A partida, a preparação poderão ser diferentes, mas o destino é o mesmo!
2 - Não vamos abdicar do nosso estilo de jogo, porque essa é uma forma de jogar que convém às nossas selecções nacionais. Que se possa explorar, eventualmente, coisas que não foram exploradas até aqui, também o poderemos fazer. Mas que isso implique que mudemos o nosso tipo de jogo, não irá acontecer. Até porque o nosso estilo de jogo é baseado numa série de coisas que nos interessa para o tipo de corpos que temos em Portugal! Porque é como te dizia: uma jogadora com 1m83 não é considerada uma jogadora alta na Europa. É alta em Portugal, mas na Europa é uma jogadora mediana! Há muitos extremos de 1m80 na Divisão B a jogar por essa Europa fora.
Portanto, não vamos mudar a nossa maneira de jogar, até porque é esta forma que temos que tem vindo a dar frutos espectaculares do ponto de vista físico! O desenvolvimento físico que provocamos às nossas jogadoras pelo facto de defendermos campo todo, pelo facto de querermos que joguem muito 1x1, por tentarmos que o jogo nunca pare, tem dados frutos. As jogadoras têm tido um desenvolvimento incrível e não queremos outra coisa, queremos é que elas continuem a desenvolver-se! É com este tipo de jogo que colmatamos muitas vezes dificuldades ao nível das capacidades físicas e da preparação física que resultam de não termos, por exemplo, um preparador físico.
Há uma série de factores que estão juntos no desenvolvimento do que pretendemos, portanto o estilo de jogo não vamos mudar.

Aceitas a crítica de que os Centros de Treino estão muito afastados dos Clubes?
Só posso falar do CNT em que trabalho, e não sinto que isso seja verdade. Só não vem cá quem não quer, e quem tem vindo tem sido extremamente bem recebido. Temos tido a visita de muitos treinadores. Tenho-me disponibilizado com todas as Associações para fazer accções de formação - já fiz em Braga, já fiz em Albufeira, já passei por muitas pelo país, e se não passei por mais foi porque não me convidaram, pois tenho todo o gosto em mostrar o que fazemos aqui, porque realmente acredito que o que fazemos é o caminho.
Portanto, se estamos afastados, se existe essa distância. Temos todos de pensar de quem é a culpa, porque é muito fácil as pessoas apontarem o dedo aos outros, mas esquecemo-nos de apontar para nós primeiro. Se pode haver essa distância, e quero deixar bem claro que estou a falar apenas do de Calvão, e não posso falar dos outros onde não estive e não estou, em Calvão só não vem quem não quer, só não sabe o que se passa quem não quer saber. Só não está mais perto quem não quer, porque qualquer pessoa que envie um mail a pedir para vir cá (já aconteceu), que nos telefone a pedir para vir cá (também já aconteceu), que peça para estar presente em estágios (normalmente até convidamos treinadores para estarem presentes nos estágios) - portanto temos todo o gosto em que as pessoas nos visitem e deixem o seu contributo, porque não sabemos tudo.
Por isso tudo não concordo com essa crítica. Mas se acham que ela existe, penso que deveriam pensar no que é que já fizeram para chegar até aqui. Porque as pessoas não podem estar sentadas no sofá à espera que o CNT lhes entre pela casa dentro, alguma coisa têm de fazer.

E em relação às críticas que muitas vezes fazem aos desempenhos das nossas selecções: sentes que maior parte das críticas vêm de quem não conhece a realidade do basket europeu e dos Campeonatos da Europa?
Penso que a maior parte das pessoas não têm noção nenhuma do que é o jogo internacional. Alguns têm esse conhecimento, felizmente! Mas isso não quer dizer que nós não sejamos alvo de crítica - não faz sentido entrar para uma Selecção Nacional e saber que vou ficar aqui até ser avô. Não tem que ser assim! Nós temos que ser criticados, avaliados e tudo o mais. Às vezes corre bem, outras vezes corre mal. Como qualquer profissional, seja na selecção, no clube, ou fora do basket.
Agora tenho a plena consciência de que a maioria das pessoas não sabe o que é a competição internacional, se não vejamos os Campeonatos em Portugal - o Campeonato Nacional de Sub16 não tem nada a ver, e quando digo nada é mesmo nada a ver, com o Europeu de Sub16! Mas não tem mesmo nada a ver! Estamos a falar da diferença de 1 para 1 milhão!! Estamos a falar de uma realidade de jogos de nível de Sub16, em que defrontamos jogadoras com capacidade para jogar na nossa Liga, de um nível superior à nossa 1ª Divisão, em relação a algumas equipas. Portanto as nossas Cadetes não conseguem competir a esse nível.
Estamos a falar de realidades completamente distintas, com tipos de basket completamente diferentes, com tipos de corpos completamente diferentes! Ainda no outro dia estávamos num Clinic aqui em Coimbra e falávamos 'Fazemos pouco bloqueio defensivo'; 'Falhamos muito perto do cesto' - dizíamos nós próprios, reconhecíamos isso. Acreditem ou não, é muito difícil trabalhar isto - e isto não é desculpar, porque provavelmente vão dizer que devíamos trabalhar mais isto. Mas acreditem ou não, é muito diferente lançar à frente de uma miúda de 1m70 ou de uma de 1m90. Mas se não temos nenhuma de 1m90 como vamos trabalhar isso? Se não treinarmos, não há conforto para essa situação. E quando os nossos adversários passam a ter 20cm a mais do que aquilo que estamos habituados, não consigo lançar como treinei, ou como estou habituado.
E isto, para muitos países é a realidade da semana! E é uma realidade que em Portugal não conhecemos. O que não invalida que nos façam críticas, porque muitas vezes a crítica é construtiva e faz parte do nosso trabalho e do processo de evolução. No entanto tenho a certeza que maior parte das pessoas não sabe o que é estar ali! Vou dar um exemplo simples: se pensarmos que maior parte das equipas só está em superação emocional quando chega a uma Fase Final, só 4 equipas chegam a uma Fase Final. Um Europeu é estar em stress 8 jogos, desde o dia em que sabe que vai até ao dia que se chega e finalmente estão aliviadas porque acabou! Até este tipo de treino é difícil de fazer, porque como todos sabem, temos muitos jogos desequilibrados na formação dos nossos jogadores.

E na Selecção de Seniores, quais as perspectivas para os próximos tempos?
Pronto, temos muito claro que o nosso objectivo é subir à Divisão A. Penso que isso irá ser conseguido ainda por cima lá para a frente irá acontecer  o alargamento, como nos Masculinos. No entanto é importante conseguir vitórias nestes jogos, até pela questão do Ranking que pretendemos conseguir, depois daquilo que foi uma primeira campanha que considero positiva. Apesar de termos tido duas derrotas, uma delas com o nosso adversário directo por 4 pontos, fora. Portanto temos todas as condições para ganhar em casa por mais pontos.
Foi uma alteração de muitos hábitos e rotinas. As coisas são completamente diferentes do que eram feitas até aqui: não é que sejam melhores ou piores, são as coisas adequadas aos corpos das nossas jogadoras, e é o tipo de basket que estava a dizer que melhor se adequa às jogadoras que temos. E isso foi difícil de mudar, num mês e meio para competir. Penso que conseguimos mudar isso, algumas coisas estão completamente mudadas e penso que estamos no bom caminho.

Neste Apuramento para a Divisão A já foi chamada à Selecção de Seniores a Joana Bernardeco, atleta que ainda era Sub20. Está no vosso pensamento convocar mais atletas com idade Sub20 ou até mesmo Sub18?
Sem dúvida nenhuma que há várias jogadoras dessas idades que vão ser chamadas aos trabalhos e aos próximos estágios da Selecção de Seniores. E para algumas delas vai ser uma realidade já! É uma questão de tempo até que sejam muitas mais.
Mas vai acontecer já, este ano, algumas atletas dessas idades serem chamadas jogadoras que já estiveram aqui no Centro de Treino de Calvão. Jogadoras que entraram para este processo com aproximadamente 15 ou 16 anos.

Os clubes da LFB têm apostado em jovens jogadoras. Esse é o caminho para dar mais qualidade a uma Liga que já reuniu excelentes praticantes?
Tenho a certeza que sim! Tenho a certeza porque o que aconteceu na Liga Feminina é que o fosso que se cavou entre formação e formados alargou-se muito. De tal maneira que os formados já deixaram de jogar, e o que estava a vir da formação não era suficiente para substituir essas jogadoras.
Na minha opinião, o Centro de Treino de Calvão tem sido um dos principais alimentos da Liga Feminina. Há outros claro, porque há clubes a trabalhar bem, felizmente. Gostaria que houvessem muito mais clubes a formar jogadoras que pudessem entrar na Liga, sou honesto. Podem haver mais, e acredito que podem haver mais para que a Liga seja cada vez mais apelativa. Mas acredito que são estas jovens jogadoras que entram neste processo de alta competição que poderão construir uma Liga mais competitiva. E é o que estão a fazer, até porque este ano temos várias jogadoras a competir e sentimos que aqui de Calvão, 80% das jogadoras têm aproveitamento para a Liga, e elas vão fazer que a competição seja muito mais equilibrada do que era há uns tempos atrás.
Se baixou o nível? Se calhar sim! Mas aumentou a competitividade? Então vale a pena, até porque acho que o nível tenha baixado assim tanto para se questionar a qualidade da LFB. Se calhar neste momento há equipas que não perderam jogos e estavam à espera de ter perdido 3. Há equipas que ganharam 1 e estavam à espera de ter ganho 3! Ou seja, há uma competitividade que penso que se irá manter ao longo deste campeonato, que também é fruto de várias jovens entrarem a poder aprofundar plantéis, a poder dar cartas já na Liga, pois acredito que algumas que já aqui passaram são jogadoras com qualidade para serem referências na Liga.

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